domingo, 8 de fevereiro de 2009

IMPÉRIO DA ESTUPIDEZ

Ah, como o futebol antigamente era um esporte descontraído, participativo, agradável, menos profissional que hoje; ah como o futebol antigamente era maravilhoso, tão bom de se acompanhar, tão bom para se trabalhar:

- repórteres tinham acesso aos vestiários antes e depois das partidas (às vezes até mesmo durante as partidas, ocasião em que aconteciam coisas esquisitíssimas...) - nada desse negócio de entrevista em áreas mistas, em auditório, com um ou dois jogadores apenas;
- repórteres entrevistavam jogadores enquanto faziam aquecimento, vestiam seus uniformes e até mesmo ensaboados no chuveiro ou imersos na banheira depois da partida;
- repórteres entrevistavam jogadores e técnicos por frestas de janelas de ônibus, de portas de vestiários, no meio do campo de treinamento, dentro da concentração, a qualquer momento, que maravilha que era!
- repórteres entrevistavam até goleiros durante o jogo! e não para emissoras de rádio mas para emissoras de televisão!
- verdade que repórteres ainda hoje entrevistam jogadores dentro do campo antes, durante e depois das partidas, mas é tão restrita essa atuação, que torna o futebol frio, distante, rígido demais para o gosto da...imprensa e do que ela acha que o povão gosta.
- belos tempos, aquele em que o repórter metia o microfone no rosto, literalmente, do jogador que berrava no chão com uma fratura exposta; tão espontâneo, um flagrante essencial da partida, que hoje lutam para acabar, ah, belos tempos os de antigamente!

Mas essa profissionalização excessiva do futebol é culpa dos empresários e dos assessores de imprensa. Ficam se espelhando no futebol europeu - que não permite entrevistas em campo nem antes nem durante nem depois das partidas, uma chatice! - para introduzir essas mudanças danosas em nosso futebol arte, gerando até mesmo desemprego nas editorias de esporte.

Por isso que os nossos jogadores agora são milionários, não dão mais atenção especial aos repórteres e infelizmente não soltam mais pérolas tão engraçadas e ao gosto do povão, né?

Onde já se viu se atrapalhar de maneira tão drástica a atuação profissional dos repórteres e fotógrafos! Afinal de contas são profissionais e precisam exercer sua profissão da melhor maneira possível. Daqui a pouco não se poderá mais se perguntar a um jogador, no intervalo, como ele está vendo o jogo, em que o time está errando e o que ele acha que o time deve fazer para vencer a partida. Ora, o intervalo tem 15 minutos, e o que custa um ou mais jogadores dedicarem cinco, seis minutos, a esclarecer o torcedor sobre os rumos da partida! E se outro repórter quiser entrevistá-lo, também, ele terá ainda, sei lá, 10, 11 minutos para o descanso e preleção do técnico.

Isso é futebol, pessoal! Jogador em campo não é igual a médico na sala de cirurgia, a um piloto de avião, a um escritor, por exemplo. Embora eu tenha lido em algum lugar que esse pessoal trabalha contando piada, ouvindo música, até mesmo dormindo, como é o caso do piloto quando o avião está no piloto automático.

Estão levando essa situação longe demais. Afinal de contas, o que seria do futebol se não fosse a imprensa, para narrar os jogos e criar a imagem dos jogadores e dos times? Ora, eu acho até que eles, os homens do futebol, deveriam era pagar... bem, deixa esse assunto pra lá.

Só digo pra encerrar, que a imprensa esportiva antigamente - quando o futebol era tão mais descontraído - não tinha time, nenhum repórter confessava seu time de coração. Hoje, como a coisa tá profissionalizada, cada repórter diz logo de cara qualé o seu time e não faz questão de esconder que torce descaradamente antes, durante e depois das partidas. Ser profissional é isso, rapaz.

(texto inspirado pela reportagem de hoje do Esporte Espetacular, da TV Globo).

CB, irritado com os "coleguinhas".

2 comentários:

Mayrant Gallo disse...

Perfeito, Carlos. Ótima reflexão. Só não sei se "eles" a merecem... E Vasco e Flu, hein? Quando é que um ou outro vai ganhar?

Victor Seabra disse...

Hum...
Você reclama de barriga cheia!
Ao menos você tem lembranças!!
E eu?? Ano errado de nascimento!!
Bom... Em uma dessas, ganho na mega-sena e monto um jornalismo mais condizente. Hum... Acho que terei que ganhar umas 5 vezes... Acumulada!

kkkkkk