
Eu não gostei nada de ver Sorato fazer o gol do título do Vasco em 1989 e calar o Morumbi, mas o início do meu verdadeiro sofrimento, o elo que me uniria de vez ao tricolor paulista, só seria batizado quando Telê Santana assumiu o time e estreou perdendo o título de 1990 para o Corinthians de Tupãzinho. Na época, aquilo doeu principalmente devido a Telê, marcado como o eterno pé frio de duas copas perdidas. Em 2000, empatávamos o jogo em 1 a 1 com o Cruzeiro no Mineirão e estávamos com a mão no título inédito da Copa do Brasil, quando Giovani cobrou uma falta da meia-lua e enterrou a chance de conquista aos 46 do segundo tempo. Dando uma cambalhota no tempo, estamos na Libertadores 2008 e aquele gol de Washington, também aos 46 da etapa final, foi um duro golpe de um esporte absolutamente impiedoso para quem negligencia os detalhes. Acho que até hoje não nos recuperamos daquele jogo contra um Flu em estado de graça. Mesmo que o Boca nos esmagasse dentro e fora de La Bombonera, conseguir a vaga de semifinalista de um campeonato com tanta tradição teria sido um feito.
Alguns podem imaginar que torcer pelo São Paulo é um misto de comodidade e oportunismo, tanta é a freqüência e a repercussão de títulos no currículo do time. Mas não é bem assim. Vi quando a Portuguesa aplicou 7 a 2 no Paulista de 1998 com direito a gol do meio de campo e contei, um a um, os sete gols do Vasco no Brasileiro de 2001.
Ontem o São Paulo conquistou um título que parecia impossível há dois meses. Apesar da confusão envolvendo o local da partida contra o Goiás, preço de ingresso e troca de árbitro na véspera, o gol ilegal de Borges só não será lembrado como decisivo porque o campeonato foi desastroso em termos de arbitragem. Primeiro tri campeão brasileiro legítimo, seis vezes no total, o time é um dos mais limitados que já passou pelo Morumbi: sem craques e sem estrelas consagradas. Mas, no banco, a diferença em forma de Muricy marcou a reviravolta com paciência, pragmatismo e, claro, mau humor. Torço pelo tricolor paulista não pelo tri da Libertadores e pelo tri Mundial, mas porque de tempos em tempos, é um time que ainda me oferece lampejos de um futebol que sabemos ter existido um dia. E, mesmo quando perde as decisões, se esforça por manter a dignidade, sem apelar para a pancadaria, coisa que o velho Telê abominava. No fundo, torcer pelo São Paulo é uma espécie de consolo ingênuo e fugaz para os traumatizados das Copas de 82 e 86 como eu.
Tom Correia
RETRATAÇÃO:
Admito, conforme a justa solicitação de Carlos (e acredito também que Mayrant concorde), que a fórmula de pontos corridos é realmente a melhor dentre todas. O campeonato deste ano foi inacreditável. Que o Vasco pague seus pecados Euriquianos na segundona e retorne em 2010; Que o Flu se livre do fantasma da Libertadores.
2 comentários:
Tom, meu amigo, nós, tricolores cariocas e vascaínos, é que deveríamos nos explicar, por que (ainda) torcemos por Fluminense e Vasco. O SP é o melhor time brasileiro dos últimos 30 anos. É só contar os títulos e os vices. E o campeonato de pontos corridos veio reparar aqueles vice-campeonatos, alguns dos quais bem injustos, frutos dos famigerados mata-matas que favoreciam os times de momento, de ocasião, e não os regulares, com ou sem craques. Parabéns, meu amigo. Ficou em boas mãos o título, como teria ficado também com o Grêmio, que foi um time também bastante regular. Aliás, este foi o campeonato da regularidade, da falta de brilho e de qualquer lampejo maior ou menor. Quem seria o craque do campeonato? Meu voto é para André Luiz, do Botafogo, pela coragem e pela loucura. O cara deve ser poeta e não sabe. Além do mais, três come-cordas caíram (e já foram tarde): Figueirense ("vim na retranca e daí?), Ipatinga ("não sei ao certo se sou Cruzeiro ou Ipatinga, será que sou mineiro?") e Portuguesa ("um erro de Português, vide campeonato paulista de 1974"). Era isso, abraço, Mayrant.
A regularidade desse campeonato deu-se em alto giro, portanto, uma regularidade positiva, excitante, que incendiou o campeonato. Nesse ponto, discordo do Mayrant. Essa regularidade é o retrato do futebol brasileiro praticado no Brasil, se é que me explico bem. Que não temos mais craques excepcionais, não é culpa do campeonato brasileiro, mas da economia, por óbvio. Nesse momento estão sendo premiados os craques do brasileiro. O Hernanes é o favorito, diz o repórter do JN. E é absurdo que o Hernanes ainda esteja por aqui. Talvez tenha sido por conta da Olimpíada, competição que começou fazendo gol e depois foi engolido pela mediocridade ronaldiana que assaltou a seleção. Mas, enfim, acabou o 2008. Agora, lutaremos pelo título em 2009, na segundona. Porra, se a gente não ganhar, será caso de pensar em parar de torcer para essa portuguesada. Ô, Mayrant, maior come-corda do Brasil chama-se Vasco, o eterno vice, apesar de tantos títulos, inclusive nacionais. E de ter os maiores artilheiros da história do campeonato, o Dinamite, o Romário, o Edmundo, o Bebeto. Vasco, a mais compelta tradução da contradição brasileira. Ou seja, a mais expressiva manifestação portuguesa em solo pátrio. Abr. (carlos)
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