terça-feira, 29 de abril de 2008

O dono da Bola

O veterano Ramon Menezes foi o dono da bola e do clássico BaVi em Feira de Santana, no último domingo. Não só pelo gol que marcou, nem tão somente pela bola que jogou, com seus 36 anos da idade. Ramon foi o dono da bola. Falou o jogo inteiro, irritou os adversários, discutiu com o treinador tricolor, desestabilizou a defesa do Bahia, que queria caçá-lo, confundiu a arbitragem, gritando, cavando faltas, agitando a ponto de levar o sr Juiz a expulsar um jogador adversário de campo e depois ter de voltar atrás (advertido do engano pelo árbitro auxiliar), incendiando o jogo desde a saída, insuflando garra e destemor nos companheiros e levando os tricolores ao desequilíbrio emocional com seu deboche, provocações e catimba, o jogo inteiro, até o final, já sem fôlego e sem voz.

Como nos velhos tempos! Aos cinco minutos de jogo, o esperto Ramon desferiu, sorrateiramente, numa disputa de bola boba no meio campo, uma certeira cotovelada que abriu o supercílio de Fausto, seu implacável marcador, deixando-o azoado o resto da partida. Com cartão amarelo, Fausto queria o revide, mas não poderia fazê-lo sob pena de expulsão, e Ramon partia pra cima, falava com ele, chamava pro pau, irritava. O jovem zagueiro Alison, de 21 anos apenas, bom futebol, mas ainda verde, entrou na dele e se deu mal. Andou tropeçando na bola, proporcionou a expulsão de Marcone (que foi fundamental para a derrota do Bahia), não deu a devida cobertura no gol do próprio Ramon e, por fim, falhou feio no gol de Marquinhos.

O bom e experimentado Ramon mostrou que um clássico não se ganha somente jogando bola e obedecendo a táticas. Um clássico se ganha com alma, com manha, com inteligência, buscando o desequilíbrio emocional do adversário, chegando junto, provocando, xingando, tudo na hora e na medida certa, sabendo-se muito bem o que fazer em cada situação, pondo a bola debaixo do braço e dizendo na cara do adversário, “é minha, porra!”.

Ao Bahia faltou vivência, rodagem, calma, inteligência para não “comer a pilha” do maestro, para não entrar na dele. Ramon deu uma aula no Jóia da Princesa. De sabedoria, sangue frio e muita malandragem. Ditou o ritmo do jogo, segurou, soltou, matou a pau. Os companheiros foram atrás, sob a sua batuta, reagiram a cada incentivo seu. O adversário ficou com os nervos expostos e caiu na armadilha. E o árbitro... atrapalhou-se todo, apitou no grito de Ramon, o camisa 10, o dono da bola, o senhor do jogo.

Ramon 3 x 0 Bahia. Embolou tudo. As duas rodadas finais do campeonato baiano prometem muita emoção. O Bahia vai quebrado emocionalmente e com desfalques sérios enfrentar o Itabuna (ainda com esperanças), na quinta. Um Vitória renascido, no mesmo dia, joga em Conquista contra o Primeiro Passo, a grande surpresa do campeonato e no páreo, vivíssimo. No domingo, jogos finalíssimos, de tirar o fôlego da galera, como há muito não víamos no campeonato baiano.


zédejesusBarrêto, jornalista

28.abril.2008

2 comentários:

Anônimo disse...

Bem que eu poderia ter ido pra esse jogo. Mas depois do último BaxVi e daquele jogo horroroso do BaxFlu que eu tive o azar de assistir pessoalmente, fiquei TÃO “entusiasmada”...

Anônimo disse...

Nada como um futebol quente para desentocar as cobras... boa, Arrêtado repórter! Faltou você, Daniela. Abr. (carlos)